Mais outro texto escrito a oito mãos

Eu sinto a terra mover-se...

Estou em sintonia com a Terra e não estou, por sentí-la ser. Se sinto-a é porque também estou seguindo como ela, o destino. Mas o meu.

E assim estamos em harmonia, pois ambas estamos em movimento e mudança.

Ambas caminhamos para um ponto, e assim percebe-se através do movimento que é envelhecer.

É o fim e o recomeço. A luz e a escuridão. Preto e branco. Som e silêncio. Pausa e movimento. Princípio e fim unidos através da banda de Moebius.

0 e 1 da linguagem binária.

As ações de Elis

1 - Espreguiçar
2 - Ensaboar
3 - Lavar mão
4 - Lavar cabelo
5 - Enxugar o rosto
6 - Vestir calça
7 - Dobrar lençol
8 - Passar roupa
9 - Escovar dente
10 - Escovar cabelo / arrumar touca
11 - Secar cabelo
12 - Colocar sapato
13 - Maquiar
14 - Pôr sutiã
15 - Varrer
16 - Passar pano no chão
17 - Escrever
18 - Dirigir
19 - Depiloar
20 - Comer
21 - Fazer xixi
22 - Abrir porta
23 - Abrir guarda-chuva
24 - Arrumar roupa / bolsa
25 - Lavar prato 26 - Enxugar prato
27 - Estudar / ler
28 - Subir escada
29 - Abrir janela
30 - Fumar
31 - Mexer café / chá / bolo
32 - Beber água
33 - Costurar

Criando gestuais

Estamos no processo de criação com base numa série de sequencias gestuais do cotidiano. Podemos dizer que experimentamos nosso dia a dia e nossas ações de outra forma, "recriando" nossos gestos através de percepções e corporeidades distintas. Todos os gestos essenciais do cotidiano são realizados de maneira impensada, tornam-se automáticos de acordo com as necessidades, (ninguém idealiza ou pensa em escovar os dentes, automaticamente, já sabemos onde se encontra a escova e o creme dental, simplesmente consumamos o ato e pronto), são nestes simples e pequenos gestos que realizamos todos os dias, que estão se concentrando o foco do trabalho agora.

Os meus gestos escolhidos foram:

1. escovar os dentes
2. varrer a casa
3. comer
4. lavar a louça
5. tomar banho
6. trocar de roupa
7. calçar sapatos
8. pentear os cabelos
9. colocar desodorante
10. pegar o onibus
11. escrever
12. tomar sorvete
13. tomar café
14. passar fio dental no dentes
15. passar creme nos pés
16. de cobrir
17. espanar

Como dançar o cotidiano?

Por: Janaina Gomes

Eu sinto a terra mover-se

Referências teóricas

- Casualidade x causalidade:
JUNG, C. Sincronicidade. Petrópolis: Vozes, 2007

- Repetição
Deleuze, G. Diferença e repetição

Algumas referências visuais

- Os filmes da trilogia das cores de KIESLOWSKI (A Liberdade é Azul, A Igualdade é Branca, a Fraternidade é Vermelha)
- As coreografias de William Forsythe
- Jogo de xadrez
- As pinturas de Edward Hopper

29 de maio de 09 - Gervasio

Iniciamos hoje com o trabalho das direções, com diagonais, verticais, horizontais os círculos e quadrados, não podendo ser esquecidos. Branco trouxe desenhos geométricos, uma espécie de mapa que serviu como orientador dos caminhos e movimentos feitos por nós, para cada bailarino ele fez um mapa, dando direcionamentos e indicações trabalhei com o desenho da cruz e suas diagonais vendo também o processo de movimento que o Laban especifica em sua teoria.
Num primeiro momento sou orientado para trabalhar apenas andando nas direções, em um segundo posteriormente acrescento braços que indicam o caminho a seguir. Como já havia feito este processo um dia antes do presente, já estava num grau avançado em relação as meninas, não falo em qualidade ou ate mesmo limpeza do movimento, mas de etapas passadas a frente, pois já estava acrescentando pés que indicam direções, mão que vai ate o quadril e o direciona, igualmente para os pés pernas e ate mesmo o braço. Planos como o médio e o alto foram explorados. Após vários momentos de interferências de Branco para com o trabalho e todos terem experimentado suas respectivas direções, mapa, paramos e Branco agora pede que eu e Janaina mostremos nossos movimentos, em seguida eu e Patrícia, após as apresentações, branco pediu que cada um dos que assistiam fizesse observações sobre o trabalho.

As minhas ações cotidianas - Pat

varrer, espanar, espremer fruta, socar massa, passar pano, tomar banho, pentear-se, maquiar-se, pular poça, lavar roupa, torcer roupa, subir em ônibus, patinar, trocar de roupa, escrever, nadar, espreguiçar, trocar lâmpada, martelar, comer, escovar dente, digitar.

um texto a oito mãos (iniciado por Pat e continuado por Elis, Jana e Natalie)

Eu sinto a terra mover-se
A terra não é segura para mim. Ela não é firme, ela move-se. Ao mesmo tempo, a terra nuca para, está em constante mudança.
E se sinto esta instabilidade é porque de alguma forma estamos, eu e ela juntos. Mesmo que seguindo caminhos diferentes. Talvez isto seja necessário para que eu a sinta - e ela a mim.
Caminhos que giram e nunca param. Caminham juntos para um ponto, para um fim.
Seguimos caminhos diferentes, porém algo nos aproxima: nossas mudanças. Vivemos com dúvida do que é esta no mundo e isso nos faz perceber as diferenças.

Uma segunda-feira para trabalhar... - Pat

Tarefa de hoje: soltar a articulação do ombro (cintura escapular).
Hoje me ocorreu o quanto é difícil fugir de uma movimentação já conhecida. Toda vez que 'tirava da manga' uma movimentação já conhecida, a movimentação ocorria 'soltinha'.
Mas quando eu tentava experimentar outros caminhos, o ombro travava e a movimentação ficava presa. E aí surgia a dúvida errar tentando o novo ou acertar com o que já sei?

Meu desenho de movimento - PAT

Este é o desenho espacial que tenho para explorar. Minhas maiores dificuldades: deixar claro quando estou explorando o quadrado e o círculo. Mais um dado para explorar nas caminhadas - o peso. As mudanças na relação pé, joelho e quadril para caminhar leve ou pesado.

Mais impressões - por Pat

Como desenhar o espaço através do movimento?
Como criar um tabuleiro de xadrez, com suas casas, a partir da locomoção através do espaço?
Precisão.
Se não conseguir delimitar e esquadrinhar o espaço (ou seja, se não conseguir EU MESMA visualizar o tabuleiro), ninguém mais conseguirá visualizar e embarcar nesta viagem.
É preciso um maior cuidado ao locomover-se nas bordas das casas. Elas não são arrendondadas e isso requer também uma precisão de movimentação.
Somos peças (com livre arbítrio) neste jogo de xadrez!

Recriações do xadrez por Branco

Imagem que Branco nos enviou....

Janaina Gomes

TABULEIRO (por jana)

Iniciamos este processo algum tempo atrás. Foi precioso cria-lo, executa-lo e compartilhar o meu código corporal com as outras bailarinas.

Ouviamos incansavelmente a música, anotavamos tudo, cada 12345678 se transformava em matéria prima para nossa criatividade.

Movimentos que eram meus, de Patricia e de Sandra foram rearrumados, codificados e musicalizados por Branco.

E foi desta forma que construimos a coreografia EU SINTO A TERRA MOVER-SE SOB OS MEUS PÉS.

E hoje estamos cá novamente discutindo, desta vez mais maduramente, sobre este que será nosso futuro espetáculo.

Estímulos diferentes norteiam nossa pesquisa, a exemplo disto temos o xadrez como um dos caminhos a ser estudado.

RELATO PARTICULAR SOBRE O XADREZ

Nunca joguei xadrez em minha vida. Comecei a pesquisar na internet algumas informações históricas. Então, com algumas tentativas fracassadas de jogar sem nenhuma instrução, decidi fazer células coreográficas para cada peça do jogo, tendo como foco (para decorar) as direções de cada peça do jogo. Horizontalidade, verticalidade e diagonal se tornaram meus melhores e maiores aliados neste momento.

Sinto-me mais próxima do entendimento.

PARTE PRÁTICA

Branco no dia 14/05/09 me pediu para fazer um tabuleiro de xadrez, depois me mandou uma das imagem que vocês irão observar aqui, e a partir disto começamos a discutir várias relações que podemos estabelecer com o movimento e o xadrez.

Além disto temos o estudo da imagem e suas particulas (pixels) como pontos de partida para investigação. Pude perceber também através de nossas reuniões que a luz e a música exerceram papéis fundamentais para o espetáculo.

Por enquanto, neste momento fica aqui um relato mais nostálgico que prático.

até breve

Janaina Gomes

Primeiras Impressões do Trabalho por Pat

Sempre trabalhando as caminhadas. A importância da relação do bailarino com o chão. É ele que me apara. É ele que me faz mover. A força que a ele imprimo, é em mim impressa (ação e reação). O caminhar (em pé ou de quatro) é feito a partir da relação das minhas articulações com o chão. (Em pé, penso nos pés, joelhos e quadril. De quatro, penso nos joelhos, quadris, punhos, cotovelos e escápulas).

Pensamentos a partir da aula de capoeira:
- Uma nova forma de ver o mundo (de cabeça para baixo)
- Como selecionar e combinar a movimentação
- A importância da relação com outro (é esta relação que me ajuda a selecionar e combinar os movimentos)

Por fim, um cansaço grande, as dores do corpo e as dúvidas frequentes de um começo de processo!
O primeiro passo foi dado, que venham os outros...

Eu sinto a terra mover-se...

Um novo trabalho da Compassos Cia. de Danças se inicia.
Aqui o nosso diário de pesquisa, montagem, ensaios, leituras, suores...
A cada semana, um escritor...
A cada semana, um jeito de escrever e dançar.